Depois de quatro décadas transformando o cenário do metal no mundo, o Sepultura está se despedindo — do jeito deles. Em uma conversa bem sincera com Jarek Szubrycht, no Mystic Festival da Polônia, o guitarrista Andreas Kisser explicou por que a banda decidiu fazer uma turnê de despedida que vai durar três anos, com encerramento previsto para o final de 2026.
“Acho que era o momento certo. Comemorar 40 anos é um marco e tanto”, disse Kisser (em entrevista publicada pelo Blabbermouth). “A gente tem uma história incrível — saímos do Brasil, tocamos em quase 80 países, levamos a música brasileira pro heavy metal, pro thrash metal, pra música pesada em geral. E fizemos um baita disco, o Quadra, em 2020, que foi nosso último.”
Mas a decisão não foi só por causa das datas ou da música. Questões pessoais pesaram muito na visão de futuro de Kisser.
“A gente sobreviveu à pandemia, ao isolamento. E eu também passei por algo muito difícil: minha esposa faleceu há dois anos e meio, depois de lutar contra o câncer. Isso me deu uma nova perspectiva sobre a vida, sobre respeitar o fim das coisas, sobre aceitar a morte em vez de fugir dela.
A gente tem essa tendência de não falar sobre a morte, como se fosse um tabu. Mas depois que ela se foi, uma parte enorme de mim foi junto. Ao mesmo tempo, nasceram outras partes — experiências novas, ideias novas, novos horizontes, outras situações. Eu não escolhi esse caminho, mas ele veio. E morrer, encarar a morte, foi meu maior professor.” , contou.
Com esse espírito, Kisser e o restante da banda decidiram encerrar o ciclo do Sepultura de forma consciente — sem desgaste, sem esgotamento.
“Sentimos que era hora de dar um descanso ao Sepultura. Eu tava me sentindo pressionado a escrever mais um álbum, entrar em mais um ciclo de turnê… e isso não é fácil. Criar um disco exige foco total. Então decidimos parar, dar uma pausa.”
Mas isso não quer dizer que vão sair de cena em silêncio.
“Estamos gravando um álbum ao vivo nessa turnê. Vai rolar esse lançamento. Ainda temos bastante coisa pra fazer nesses próximos dois anos. Não estamos com pressa. A gente tá se despedindo, mas com tranquilidade”, disse Kisser. A turnê final inclui lugares que a banda nunca visitou, como Islândia e países da África. “Queremos ir a todos os cantos, curtir de verdade esse momento, e depois respirar um pouco… E tá sendo ótimo. Ainda é empolgante.”
Aliás, esse último trecho da jornada tem trazido algumas das conexões mais especiais da carreira do Sepultura.
“Essa é a melhor turnê que fizemos na Europa, na nossa história. Tem muita gente vendo o Sepultura ao vivo pela primeira vez. E outros fãs que se conheceram num show nosso — hoje estão casados, e estão levando os filhos pra ver a banda. É incrível. É uma sensação fantástica. E é com muita gratidão que a gente diz pros nossos fãs: ‘Obrigado por manterem essa banda viva e relevante por 40 anos.’”
Sobre o futuro, Kisser não está fazendo grandes planos — mas a música continua.
“Desde que entrei no Sepultura, em 1987, a gente nunca parou. Nem na pandemia. Quando mudamos de vocalista, de empresário, a gente sempre seguiu ensaiando, produzindo, olhando pra frente”, lembrou. “E acho que esse é um bom momento pra parar, porque ainda estamos jovens o suficiente pra começar algo novo do zero. Claro que vou continuar com música. É isso que eu faço, é o que eu amo. Não vou sair do Sepultura pra vender carro, nada disso.”
Ele já tem alguns projetos em andamento — como um programa de rádio em São Paulo com o filho, a banda De La Tierra, além de planos para dar aulas de guitarra e produzir vídeos explicando seu estilo e as músicas do Sepultura.
“Muita gente me pede isso, então quero ter mais tempo pra fazer. Conheço muitos músicos, muitas bandas. Tô conversando com vários:
‘Vamos fazer isso, fazer aquilo.’ Tenho até uma ideia de fazer um projeto de reggae com o Derrick [Green, vocalista do Sepultura]. Vai saber? [risos]”
Eu gosto de deixar as portas abertas. Dá um certo medo, claro, mas também é muito empolgante sentir essa liberdade — de se expressar, de ver o que pode surgir. Acho que é por isso que a gente decidiu parar: pra sair da zona de conforto, respirar outros ares artisticamente.”
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FONTE: METAL INJECTION.