Resenha: Raskol – Batushka (2020)

Na resenha de hoje, trago uma dos grupos  mais criativos e icônicos dos últimos anos.  Mas antes de tudo, vamos começar com a definição do estranho nome.  Batushka significa padre em cirílico, o alfabeto russo.

Essa banda incrível teve ascensão em meados de 2015 com o lançamento do debut Litourgya. A primeira vista, pode-se dizer julgando pela capa (pintada pelo até então idealizador do projeto, o multi-instrumentista Krzysztof Drabikowski), que se trata de mais uma álbum de Black Metal com suas famosas artes blasfemas, mas é ao dar o play que nos deparamos com uma obra totalmente singular.

Para começar, as composições do grupo são escritas em eslavo eclesiástico, língua litúrgica das igrejas ortodoxas Russas e Búlgaras. A banda, ainda mescla em meio aos vocais guturais característicos do estilo, um coro de vozes digno de arrepiar.
A temática do trabalho também se diferencia do habitual em termos de conceito. As faixas que compõem a obra não são canções para se apreciar individualmente, mas sim em conjunto, compondo assim uma liturgia.

Vale ressaltar que nessa época, a identidade de todos os músicos que compunham o projeto era totalmente mantida em segredo. Esse fato rendeu o icônico visual com longas vestimentas, semelhantes aos hábitos religiosos, que casaria perfeitamente com a montagem do palco, que tinha candelabros, velas e até mesmo um altar. Era como se o som do Batushka e toda a temática que os envolvia, fossem disseminados em uma espécie de missa negra.

Na época, o grupo ainda conseguiu botar uma dúvida na cabeça do público, que se questionava se os poloneses eram realmente uma banda satânica ou se não passavam apenas de um grupo com estética controversa, vide o Ghost.
Graças à originalidade e a boa recepção do trabalho, a banda ficou conhecida no mundo todo, rendendo apresentações nos principais festivais de metal, como o Wacken, além de um contrato assinado com a gravadora americana Metal Blade.
Mas, como em muitos casos, as coisas começam a azedar a partir do momento em que fama e dinheiro são partes da rotina…
Para resumir, um processo foi travado (e graças a isso todos os nomes dos envolvidos tiveram de ser revelados) envolvendo Krzysztof e o vocalista Bartłomiej Krysiuk, ambos reivindicando o direito sobre o nome da banda. A informação mais recente sobre essa disputa é que a corte polonesa da cidade de Bialystok, decidiu que nenhum dos dois músicos é dono da marca, e que ambos podem lançar novos materiais com o nome enquanto o processo ainda corre na justiça.

E assim, o nó na cabeça dos fãs estava dado…

Ambas as bandas seguiram seu caminho após a determinação judicial. Krzysztof, que teve o maior apoio do público em toda essa estória, lançaria em maio de 2019 Panihida, o excelente sucessor espiritual de Litourgiya.

Enquanto isso, a banda de Krysiuk em meio a todo esse caos, recebeu a alcunha de Faketushka, preparava Hospodi lançado em julho do mesmo ano, pela Metal Blade, que mesmo com as inúmeras críticas, optou por manter o contrato com o grupo liderado pelo vocalista.

Ambas as obras posteriores ao primeiro álbum são de qualidade ímpar. Entretanto, é necessário admitir que a essência do Batushka original ficara com seu guitarrista. Não entenda mal, Hospodi é um excelente trabalho em todos os aspectos, porém, soa mais como outra banda tentando fazer o que a primogênita fazia.

E depois dessa longa, porém, reduzida história, que chegamos a 2020. E em meio à pandemia, onde várias bandas usaram o período de ostracismo para produzir e lançar novos trabalhos, Krysiuf e companhia brindaram o público do seu Batushka no dia sete de agosto com um novo EP, Raskol.
Traduzido do Bósnio, Raskol significa Divisão (um nome interessante depois de toda essa jornada até aqui). Mas engana-se quem espera encontrar alfinetadas ou indiretas, nesse ponto ambas as bandas não se enfrentam, fora no âmbito judicial.
É difícil realizar uma análise faixa por faixa desse registro de 30 minutos, uma vez que assim como nos primórdios, as obras do Batushka, sejam quaisquer das duas versões, devem ser apreciadas como um todo, apesar dos caprichados clipes de divulgação feitos pela banda em suas redes sociais.
Ao todo são cinco canções intituladas de IRMOS (infelizmente não obtive nenhuma informação a respeito da tradução desse título), numeradas de I à V. A temática do álbum gira em torno do livro de Sticherarion que foi varrido da liturgia comum depois de uma reforma encabeçada pelo Patriarca Nikon durante o século XVII. Atualmente, este livro é utilizado por devotos mais antigos, sendo um dos motivos para o evento conhecido como a Grande Cisma, que resultou em uma ruptura na Igreja Ortodoxa.

O que ouvimos nessas cinco faixas é uma banda ainda muito coesa e íntegra no que busca entregar.  Temos os tão cativantes vocais litúrgicos e os elementos que levaram a banda à tona, porém, a sensação é a mesma que descrevi a pouco, o Batushka de Krisiuf, apesar da qualidade absurda apresentada, não consegue cativar como a mesma banda que outrora foi.

Isso significa que o EP seja ruim? Nem um pouco!

Eu mesmo como colecionador que sou tenho a minha cópia em CD e faço questão de apoiar ambas as versões dessa banda que tanto me chamou a atenção. Se você ainda não conferiu esse registro, confira, pois é uma ótima demonstração dessa mais recente safra de bandas do Black Metal.

Do anonimato para a fama. Da fama para os tribunais até a separação em 2018. É uma pena que uma banda tão promissora como o Batushka nunca mais terá a colaboração de seus membros originais. Inclusive essa definição de membros originais ficará bem ampla com essas duas versões, não?

Mas em contrapartida, se o público perdeu uma das grandes bandas a surgir no cenário do metal, por outro lado, agora temos dois grupos dispostos a entregar seus melhores trabalhos em prol de mostrar qual dos dois é o verdadeiro Batushka. Na dúvida eu escuto os dois.

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Tracklist:
01) IRMOS I / ИРМОС I 
02) IRMOS II / ИРМОС II 
03) IRMOS III / ИРМОС III 
04) IRMOS IV / ИРМОС IV 
05) IRMOS V / ИРМОС V

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