A segunda edição do Summer Breeze Open Air Brasil aconteceu nos dias 26, 27 e 28 de abril de 2024, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Com a expectativa de superar a edição de 2023, a organização do festival teve em suas mãos um grande trabalho, que felizmente foi muito bem sucedido. A Extreme Sound Records foi credenciado para o domingo (28), e gostaria de começar essa cobertura agradecendo a Agência Taga pelo credenciamento concedido, a Consulado do Rock, a revista Roadie Crew e a organização do Summer Breeze pela oportunidade, e a seguir você confere como foi o dia e as apresentações que aconteceram.
Estrutura e Organização
Logo quando entrei no local, foi possível notar uma grande diferença na questão dos banheiros. No ano passado eles eram do tipo químico, algo que não agradou muito o público, devido ao mau cheiro que ficava no lugar, então esse ano a organização colocou banheiros montados, como se fossem casinhas, que além de melhores localizados e estruturados, eram limpos constantemente, algo que ajudou muito.
Sobre as entradas, assim como no ano passado, elas foram divididas em dois portões, o que também facilitou o acesso do público, contando também com um portão extra apenas para os credenciamentos, que foi algo que me permitiu a entrada com mais facilidade ao evento.
Um dos pontos que também foi melhorado foi a alimentação. A edição 2024 do evento contou com mais opções de comidas, desde espetos, pasteis, lanches, contando ainda com diversas opções veganas, assim como os bares, que estavam presentes em mais locais, espalhados por toda a extensão do Memorial. Algo que foi prometido para esse ano foram os pontos de água gratuita, que até tinham, porém foram um pouco escassos, o que poderia ser melhorado na próxima edição, mas que não prejudicaram a experiência como um todo e não me recordo de nenhuma ocorrência de alguém passando mal por falta de hidratação.
A organização do festival é um destaque a parte. Todos os profissionais envolvidos estavam de prontidão para ajudar, sempre munidos das informações necessárias, assim como a segurança, a parte da limpeza, a sinalização dos locais, palcos e etc, todas muito bem feitas. Enfim, temos um exemplo de um grande festival que estava preparado para receber o público e soube o que fez. Agora, vamos à música.
While She Sleeps
Quando cheguei ao evento o While She Sleeps já estava no Hot Stage, e algo que impressionou foi a quantidade de pessoas que já estava presente durante a apresentação, tendo em vista que eles são uma banda relativamente nova. Eles fizeram um show muito animado, tendo muito peso e melodia, fazendo com que a plateia interagisse o tempo todo. Músicas como “Four Walls”, a pedrada “Silence Speaks”, “ENLIGHTENMENT(?)” e “SYSTEMATIC” serviram para apresentar a banda a um novo público e satisfazer a vontade dos fãs de vê-los no Brasil.
Setlist:
SLEEPS SOCIETY
ANTI-SOCIAL
YOU ARE ALL YOU NEED
THE GUILTY PARTY
SELF HELL
You Are We
Four Walls
Silence Speaks
ENLIGHTENMENT(?)
SYSTEMATIC
Overkill
Na sequência o Overkill começou os trabalhos no Ice Stage, e logo de cara já conquistou o público que estava em peso acompanhando a apresentação. Uma novidade para esse show foi a presença do baixista David Ellefson (ex-Megadeth), que estava substituindo a lenda D.D. Verni, e que não deixou a peteca cair em nenhum momento. Logo após o início com “Scorched”, a banda tocou a matadora “Bring Me The Night”, “Hello From The Gutter”, que é uma das minhas favoritas, foi cantada em uníssono pelo público. Mesmo com o calor forte tanto a banda quanto as pessoas não param de agitar o tempo todo, com o vocalista Bobby “Blitz” Ellsworth dominando a frente do palco, com seu timbre único. “Wicked Place” serviu para dar um respiro na velocidade, assim como “Horrorscope”, que tem um solo incrível.
Caminhando para o final, a trinca “Elimination”, “Rotten to The Core” e o cover do Subhumans, “Fuck You”, serviu para encerrar uma apresentação forte, técnica e cheia de energia.
Setlist:
Scorched
Bring Me the Night
Electric Rattlesnake
Hello From The Gutter
Wicked Place
Coma
Horrorscope
Long Time Dyin’
Solo de bateria (com as intros de ‘Painkiller’ e ‘Run to the Hills’)
Solo de baixo & bateria (com a intro de ‘Peace Sells’)
The Surgeon
Ironbound
Elimination
Rotten to the Core
Fuck You
Ratos de Porão
O Ratos de Porão iniciou sua apresentação no Sun Stage, e nesse momento o público já se dividiu um pouco, alguns indo conferir o show deles, enquanto outros ficaram para ver o show do Avatar que aconteceria no Hot Stage. Como nunca havia assistido uma apresentação dos brasileiros, dei prioridade ao Crossover/Thrash feito pelo Ratos, que ja começou a aprsentação com “Alerta Antifascista”, com um João Gordo cantando demais.
“Aglomeração” continuou a pegada no disco mais recente, enquanto “Amazônia Nunca Mais” nos levou para o clássico álbum Brasil. Mesmo tendo enfrentado diversos problemas de saúde, é incrível ver a energia de João Gordo em cima do palco, que não mesmo não se movimentando muito, ainda mostra o porquê de ser um dos mais conhecidos frontman do metal nacional e internacional. O mesmo pode ser dito sobre o restante da banda, que com anos de estrada ainda tem muito sangue nos olhos. “Morte ao Rei”, “Mad Society” e a pancada “Igreja Universal” foram cantadas por todos e o encerramento com as clássicas “Beber Até Morrer” e “Crise Geral” foi perfeito. Certamente o show do Ratos de Porão é um que vale a pena assistir e rever assim que possível.
Setlist:
Alerta Antifascista
Aglomeração
Amazônia Nunca Mais
Farsa Nacionalista
Ignorância
Lei do Silêncio
Morte ao Rei
Morrer
Mad Society
Crianças Sem Futuro
Crucificados Pelo Sistema
Descanse em Paz
V.C.D.M.S.A. (Vivendo Cada Dia Mais Sujo e Agressivo)
Igreja Universal
Sofrer
Conflito Violento
Aids, Pop, Repressão
Beber Até Morrer
Crise Geral
Carcass
Correndo de volta para o Ice Stage, era hora de assistir os reis do Death/Grind inglês, Carcass. A banda tem o balanço perfeito entre a técnica, a melodia e a destruição, algo que já fica aparente logo em “Buried Dreams”, “Kelly’s Meat Emporium”, do último álbum, e “Incarnated Solvent Abuse”, que não deixam nenhuma dúvida sobre a força que eles têm.
Nesse momento o calor já castigava os presentes, algo que foi sentido e visto em algumas partes do show, mostrando um público em partes parado, talvez se poupando um pouco, porém sem agitar e aplaudir a banda a cada canção finalizada. “Black Star / Keep On Rotting in The Free World” serviram para trazer de volta o ânimo do público, sendo um dos destaques da apresentação. Outra que também deu um gás ao show foi “Corporal Jigsore Quandary”, que tem um ritmo de bateria ótimo, bateria essa que comandou a apresentação e deu o tom das músicas.
Infelizmente o calor forte abalou o vocalista/baixista, Jeff Walker, e o músico tocou durante vários momentos sentado próximo da bateria, deixando algumas partes de músicas sem cantar, apelando ainda para jogar água na nuca e colocar o que parecia ser uma bolsa de gelo na cabeça, para ajudar a aliviar a sensação térmica. Não foram momentos que prejudicaram a apresentação como um todo, mas ainda assim o músico se desculpou com o presente, mesmo tendo feito um show excelente, encerrando com “Ruptured in Purulence / Heartwork” e “Tools of The Trade”.
Setlist:
Buried Dreams
Kelly’s Meat Emporium
Incarnated Solvent Abuse
Under The Scalpel Blade
This Mortal Coil
Tomorrow Belongs to Nobody / Death Certificate
Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March No. 1 in B)
Black Star / Keep On Rotting in the Free World
The Scythe’s Remorseless Swing
316L Grade Surgical Steel
Corporal Jigsore Quandary
Ruptured in Purulence / Heartwork
Tools of The Trade
Killswitch Engage
Hora de uma das mais esperadas pelo público, o Killswitch Engage começou sua apresentação no Hot Stage quando o calor já estava um pouco mais ameno, o que ajudou o público a curtirem logo a abertura com a pedrada “My Curse” que trouxe o lugar abaixo. Impossível não se empolgar e emocionar com essa faixa.
“Arms of Sorrow” chegou mais emotiva, com todos cantando juntos e “Signal of Fire” já começou os primeiros mosh pits, além de contar com um solo de guitarra incrível. A banda toda estava com uma energia ótima, se movimentando pelo palco a todo momento, com o vocalista Jesse Leach e o guitarrista Adam Dutkiewicz interagindo o tempo tempo com o público, fazendo piadas, chamando para os moshs e pedindo palmas durante as canções. Esse sempre foi um diferencial da banda, essa boa interação com o público que traz as pessoas para mais perto.
“Hate By Design” foi apresentada com um refrão pegajoso, sendo mais uma que foi cantada por todos, assim como “Rose of Sharyn” que além de ser uma das melhores da banda, trouxe o maior pit do evento até então. “Strength of The Mind” foi outra muito celebrada e “The End of The Heartache” foi cantada por todos, e o que se via era muita emoção junto das palavras de Jesse com seu refrão que tocou cada um dos presentes. “My Last Serenade” e “Holy Diver” encerraram uma apresentação histórica da banda no Brasil, e uma das melhores do Summer Breeze.
Setlist:
My Curse
Rise Inside
This Fire
Reckoning
The Arms of Sorrow
In Due Time
A Bid Farewell
Beyond The Flames
The Signal Fire
Unleashed
Hate by Design
The Crownless King
Rose of Sharyn
Strength of The Mind
This Is Absolution
The End of Heartache
My Last Serenade
Holy Diver
Anthrax
Penúltima apresentação nos palcos principais, o Anthrax começou seu show no Ice Stage da forma mais animada possível com “Among The Living”, um arrasa-quarteirão que já deixou todos pra cima. “Caught in a Mosh” e “Madhouse” aqueceram ainda mais a plateia que já cantava a plenos pulmões cada uma dessas canções. Logo após “Efilnikufesin (N.F.L.)” a banda apresentou uma novidade no setlist com “Keep It in The Family” e teve um convidado mais do que especial em “I Am The Law”: o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser.
Andreas já havia tocado com a banda em outras oportunidades, tendo substituído Scott Ian em alguns shows, então vê-lo novamente com a banda foi algo realmente especial. Em meio a muitos mosh pits, pessoas cantando e até sinalizadores acesos, “In The End” (homenageando Ronnie James Dio), “Medusa” e “Got The Time” serviram para mostrar como o Anthrax é uma das bandas mais divertidas de se ver ao vivo, com energia pura vindo de cima do palco e um Joey Belladonna tendo a plateia na palma das mãos e como o baixista Dan Lilker segurou muito bem as pontas substituindo Frank Bello.
“A.I.R.” veio para terminar a noite, junto com o clássico “Indians”, que trouxe o Summer Breeze abaixo, com Scott Ian pedindo mais energia da plateia e o grito de “war dance” ecoando pelo local. Uma ótima forma de fechar a apresentação e também um dos pontos altos da noite.
Setlist:
Among The Living
Caught in a Mosh
Madhouse
Metal Thrashing Mad
Efilnikufesin (N.F.L.)
Keep It in The Family
Antisocial
I Am the Law
In The End
Medusa
Got The Time
A.I.R.
Indians
Mercyful Fate
É então chegada a hora mais esperada para muitos no festival: o grande retorno do Mercyful Fate aos palcos brasileiros. A banda havia tocado pela última vez no país em 1998, e a expectativa para o show era grande. E a banda não decepcionou.
King Diamond (vocais), Hank Shermann e Mike Wead (guitarras), Becky Baldwin (baixo) e Bjarne T. Holm (bateria) conseguiram transformar o palco do Summer Breeze em um templo satânico, desfilando clássicos focados nos discos Melissa e Don’t Break The Oath e do EP homônimo. O começo épico da apresentação com “The Oath” deixou o lugar com uma aura sombria e do mal, que na sequência só aumentou com “A Corpse Without Soul”.
A nova “The Jackal of Salzburg” se mostrou absurdamente pesada, mais do que nos vídeos que foram liberados na internet, e trouxe uma temática forte e satânica. “Curse of The Pharaohs” deixou todos em êxtase, cantando junto cada verso da música, seguida de “A Dangerous Meeting” que aumentou ainda mais a temperatura do lugar, com King Diamond dando um show nos vocais e mostrando uma ótima forma mesmo após tantos anos em cima dos palcos.
“Doomed By The Living Dead” apresentou um refrão muito bom para ser cantado junto, e um peso que não se ouve nos discos, algo positivo para a banda que conseguiu essa façanha durante todas as faixas. Falando em peso, o baixo de Becky Baldwin estava saltando aos ouvidos, sendo executado com excelência pela artista, algo que chamou a atenção de todos os presentes.
King interagiu o tempo todo com a plateia, reforçando a felicidade de estar novamente no país, prometendo que não irá demorar para retornar e agradecendo muito a presença de todos. Outro ponto são as guitarras de Shermann e Wead, que despejaram muita técnica e fritação, com ótimos solos de ambos.
O show continuou com a “balada” “Melissa”, que serviu para mostrar novamente os vocais excelentes de King Diamond. “Black Funeral” retomou a velocidade e o clássico “Evil” pareceu aumentar o volume da voz de todos, já que o som foi tão alto que em momentos suprimiu os instrumentos no palco, sendo notado inclusive pelo vocalista. “Come to The Sabbath” manteve esse momento, sendo cantada a plenos pulmões por todos, e ovacionada ao final da execução.
Fechando a noite, “Satan’s Fall” foi o toque especial para essa missa negra que presenciamos, com seus mais de 10 minutos sendo tocados com excelência por todos da banda, fazendo muitos irem às lágrimas, gritarem, aplaudirem e se recusarem a acreditar que o show havia chegado ao final. Depois da apresentação ficou o sentimento de dever cumprido, de satisfação e fazer parte da história ao estar presente em um dos melhores shows que já passaram pelo Brasil. Uma forma incrível de encerrar a segunda edição do Summer Breeze Brasil, e deixar a expectativa muito alta para o ano que vem.
Setlist:
The Oath
A Corpse Without Soul
The Jackal of Salzburg
Curse of the Pharaohs
A Dangerous Meeting
Doomed by The Living Dead
Melissa
Black Funeral
Evil
Come to The Sabbath
Satan’s Fall