Sem sombra de dúvidas, o The Troops of Doom é uma das melhores surpresas a surgir no underground brasileiro nos últimos anos. Trazendo o Death Metal raiz dos anos 80, a banda lançou em 2022 Antichrist Reborn, pedrada essa que sucedeu os excelentes EPs lançados anteriormente, The Absence of Light (2021) e The Rise of Heresy (2020).
E recentemente, graças à parceria firmada com a Extreme Sound Records, tive a oportunidade de entrevistar o lendário Jairo “Tormentor” Guedez, guitarrista dos primórdios do Sepultura e fundador do The Troops of Doom. Lembrando que você pode adquirir a sua cópia de Antichrist Reborn e mais de 1500 títulos cadastrados clicando aqui!
Aproveite a entrevista!
RB: Salve grande Jairo! É um prazer poder conversar com você, que é o meu primeiro entrevistado nessa minha jornada jornalística, que iniciei há pouco mais de um ano, nesse nosso vasto mundo do Underground. Até então eu só havia atuando em resenhas e notícias.
JG: Ô meu velho, obrigado. É um prazer poder responder e espalhar a palavra da banda. Valeu demais!
RB: Cara, começando com uma pergunta mais pra darmos um ponta pé inicial mesmo. Poderia contar pra nós, como foi o seu primeiro contato com a música em si, e quem foram os heróis que despertaram em você o desejo de ser um guitarrista?
JG: Meu primeiro contato com a música, que eu me lembro, foi através da minha mãe que colecionava vinis de música clássica, alguns boleros. A minha mãe foi professora de gafieira, dançava gafieira, dançava bolero, tango, samba. E eu tive contato com algumas coisas, música espanhola, música argentina. Mas o que me chamou atenção à primeira audição, foram os lps do Elvis Presley. E aí eu passei a gostar muito de Elvis, passei a seguir a carreira do Elvis, passei a colecionar os discos e os filmes também. Esse foi o meu primeiro contato com a música.
Um pouco tempo depois ali no início dos anos 80, final dos anos 70, eu tive contato com o Kiss através de uma revista chamada “Revista Pop”, simultaneamente com Alice Cooper. A partir daí, eu fui descobrindo todas as vertentes que estavam ligadas a essas bandas. Entre outras inúmeras que conheci, eu me apaixonei pelas primeiras bandas de metal alemãs da década de oitenta e as americanas, especificamente, as da Bay Área.
RB: Tive a oportunidade de visitar BH em uma viagem de trabalho, e fiquei muito contente quando vi que um dos lugares que iria visitar, ficava muito próximo à loja da Cogumelo Records.
A cena que você, e tantas outras pessoas de bandas tão emblemáticas surgiram, é algo que para os dias de hoje é quase utópico, e para lá de inspirador. Garotos que se prezavam a fazer um som extremo em um tempo onde as dificuldades e recursos eram totalmente escassos. Fora essas dificuldades, você consegue apontar pontos positivos e negativos dessa atual cena, em comparação àquela época?
JG: Eu sempre me pergunto sobre essa diferença da cena musical hoje e antes, e acho que existem vários fatores que temos que numerar, porque é obvio que as coisas estão completamente diferentes. Como expectador, como fã, hoje é muito melhor, porque nos anos 80, você praticamente não tinha shows de bandas gringas que se gostava. Teve o Kiss em 1983, o Queen em 1981, só no Rio e São Paulo, se não me engano. Depois teve o Rock in Rio em 1985.
Então, é uma série de coisas que acontecem hoje, que tornam o nosso mundo da música muito mais fácil. Não só para assistir bandas que somos fãs e que passam pelo Brasil a todo o tempo, como também com a facilidade que a internet nos dá com esse acesso ao mundo inteiro em segundos, em real time. Nós podemos ver como determinada banda toca ao vivo, quais são os equipamentos que os caras usam, então tudo isso trouxe uma facilidade muito grande.
Por outro lado, o mercado já está saturado, você encontra muitas bandas de diversos estilos, e dentro desses estilos você encontra muita coisa. Então cria-se muito espaço para os artistas e pouco espaço para a plateia, como uma pista de cavalos de corrida que ocupa todos os espaços dentro de um Jockey Club. Então parece que somente vão ter cavalos correndo e nenhum público para assistir. A gente tem que dar muita atenção pra isso. Por isso eu me policio muito pra não deixar de ser público, não deixar de também ser fã. Eu compro camisas das bandas que eu gosto, camisas oficiais, eu compro os Cds, compro os DVDs. Eu faço o download no Spotify, mas eu sou mais de escutar os formatos físicos mesmo. Eu chego a comprar os discos de vinil quando eu posso, ou quando quero muito. Então eu sou uma pessoa que consome o merchandising das bandas que eu gosto, e vou aos shows quando eu posso também.
Então a diferença, é que antigamente, na década de oitenta ali, primeiro que nós, (aí falando como minha visão enquanto membro do Sepultura) vivíamos naquele tempo um final de um regime militar para uma transição de um regime democrático ainda muito no início. Então eu participei de toda aquela corrida democrática do Tancredo Neves né e etc, ainda mais porque tudo se concentrou aqui em Belo Horizonte, na nossa Praça da Liberdade. Então eu posso te dizer que era muito difícil. Em relação ao mercado de importação, a gente não podia importar nada, tudo era muito caro, tudo era muito longe, tudo era muito complicado.
Nós por muitas vezes, usávamos instrumentos emprestados. Muitas fotos em que você me vê tocando com o Sepultura, a guitarra que eu estou usando é a mesma das fotos do guitarrista do Mutilator, o Magoo, ou do guitarrista do Overdose. A bateria do Iggor também. Então a gente acabava fazendo uma troca como forma de uma banda ajudar a outra. Até acessórios como braceletes, cintos de bala, botas, jaquetas de couro, tudo que a gente podia, porque ninguém tinha quase nada. Então a gente se ajudava muito mesmo.
Hoje já não tem muito isso. Praticamente cada um já tem suas coisas, cada um compra o seu instrumento, hoje o pagamento é facilitado, no cartão em zilhões de vezes e acaba que isso tudo facilitou bastante. Eu to falando mais no lado profissional assim né, como músico.
Pra você ter noção, naquela época eu e o Max (Cavalera) tínhamos de responder à mão todas as cartas, traduzindo do italiano para o português, do francês, do alemão. Nós já recebemos cartas do Japão escritas com um inglês intraduzível. E nós tínhamos que primeiro traduzir as cartas para entendermos o que responder, e aí sim responder e manda-las de volta pelo correio. Esse processo demorava cerca de três meses, quatro meses às vezes, das cartas chegarem até nós e voltarem para o fã, o que não nos economizava tempo. Isso fazia com que a banda demorasse mais para ser conhecida lá fora, dificuldade essa, que hoje nenhuma banda mais encontra…
RB: O The Troops of Doom, é um projeto que, para mim, já nasceu grande. Quando ouvi o The Rise of Heresy, aquele EP me deixou com um gosto de quero mais, e fiquei muito ansioso por um álbum completo.
A partir de que momento a “ficha” caiu, e como você definiu que queria trabalhar em um projeto que trouxesse à tona às raízes dos primórdios da sua carreira? Havia um certo anseio em você para trazer essa aura do Death Metal oitentista de volta à cena nacional?
JG: Esse estilo que eu toco com o The Troops of Doom, é o meu estilo predileto, é o meu campo de batalha, é onde eu sei lutar. Eu trabalho muito bem nessa “vibe” do Death Metal e do Thrash Metal e me sinto confortável e gosto quando eu pego a minha guitarra e já sei que o que vai sair já é puxado pra esses estilos, pros anos 80. Então para mim é uma coisa que está no meu DNA, não tem como eu evitar e nem preciso forçar de mais para que algo venha à tona.
Vale lembrar, que no início a banda ainda não se chamava The Troops of Doom.
Em 2015 pra 2016 nós estávamos montando, eu, o Marcelo Vasco e o Alex Kaffer, esse projeto que ainda estava sem nome,e que a ideia era trazer uma continuidade à sonoridade do Morbid Visions, que foi onde eu larguei o Sepultura. Essa transição aconteceu entre o Morbid Visions e o início do processo de composição do Schizofrenia.
Era como voltar naquele período da minha vida e, a partir dele, recomeçar um novo caminho.
A primeira pessoa que pensamos em chamar para ser o vocalista, foi o Stian Shagrath do Dimmu Borgir. E ele de primeira aceitou e adorou a ideia de tocar conosco, porém, não poderia tocar ao vivo em hipótese alguma, porque ele não teria tempo para isso. Pois além do DImmu Borgir ser uma banda gigantesca, ele estava lançando o Chrome Division na época, e já estava começando a fazer turnê com esse projeto também. Então devido a essas imposições, nós decidimos que faríamos sim algo com ele em determinado momento (como fizemos com o Jeff Becerra em nosso segundo EP), mas eu não queria que a banda estivesse fadada a ser apenas uma banda de estúdio. Eu preciso, quero muito e gosto muito da estrada. Eu preciso encontrar pessoas novas, conhecer essas pessoas, levar a minha palavra até os fãs, a música. Então eu preciso tocar ao vivo.
Então nós engavetamos esse projeto, até que em 2019, durante o final do último show da turnê de retorno do The Mist. A banda se apresentou no Rio de Janeiro no dia 02 de novembro de 2019. E a banda do Alex Kaffer abriu esse show. Ele me ligou um dia antes e me falou para tocarmos a Bestial Devastation, juntos e fazermos uma jam devido a nossa amizade de mais de 30 anos. E antes do The MIst subir ao palco, eu subi sozinho para tocar com a banda Enterro. O Donida que toca também no Matanza me passou a guitarra dele pra eu tocar com o Alex e os outros membros da banda.
E foi simplesmente maravilhoso, foi surpreendente para todos nós, tanto pra gente que estava no palco, quanto para o público. Nós tivemos um feedback muito forte. As pessoas ficaram emocionadas e eu, particularmente, percebi naquele momento, que o vocal do Alex ao vivo, me remetia aos tempos do Sepultura, do início ali, do Max ainda adolescente. Então a partir dali eu tive um “start” de que a gente poderia começar a partir dali a retomar aquele projeto da banda, já dando um nome a ela pouco tempo depois e que seria o Alex o baixista e vocalista. Assim decidimos tirar o projeto da gaveta e começarmos o The Troops of Doom.
RB: Sei que Antichrist Reborn sofreu um adiamento devido a pandemia, o que resultou no lançamento de outro EP, o The Absence of Light. Além da distância entre os integrantes, quais outras dificuldades surgiram nessa jornada até o lançamento do primeiro álbum?
JG: Metade do álbum já estava escrito no início de 2020. E nessa fase eu estava lendo os estudos e alguns escritos do Thomas Hobbes, quando ele escreveu a obra O Leviathan. E isso meio que aconteceu simultaneamente.
Escrevendo o Antichrist Reborn nós fomos percebendo que a pandemia não tinha tempo definido pra acabar, então achamos melhor engavetar o álbum e mexer com ele depois. Mas nós precisávamos ter um elo dessa corrente entre o The Rise of Heresy do início da banda em 2020 e o Antichrist Reborn. Resolvemos então criar um EP totalmente novo, parando completamente as composições do Antichrist Reborn e começamos as composições para o The Absence of Light. E junto com o Alex eu compus as letras totalmente inspirado pela metáfora de O Leviathan, tanto na questão religiosa, com a figura do diabo e o monstro bíblico que ele representa, quanto na questão política, que fala sobre a monarquia e o poder da autocracia.
Então eu acho que, o que mais nos chamou a atenção na época e que nos trouxe esse pensamento de parar o processo do Antichrist Reborn para iniciarmos o processo de um EP, foi que assim não teríamos um primeiro disco meio que jogado, sem poder fazer a divulgação dele da forma correta, com shows principalmente, por causa da pandemia.
Já a questão da distância, não é ela o que mais no incomoda. Pouquíssima vezes essa distância geográfica nos atrapalha. Acho que o único momento em que uma solução é necessária é quando queremos ensaiar, isso é o que demanda mais esforço da nossa parte, mas mesmo assim conseguimos. Mas essa distância também proporciona a possibilidade de trabalharmos com outras ferramentas. Acho que estamos mais próximos um do outro, do que se fôssemos uma banda totalmente montada em Belo Horizonte, como eu já tive algumas e que eu não tinha sequer um terço do contato e da intimidade com as pessoas da minha banda hoje.
RB: Uma das coisas que mais chamam a atenção no The Troops of Doom além do som, é a grande aposta que a banda faz nos itens de merchandising, com direito até mesmo a um café da banda. De quem parte essas ideias e como o grupo consegue viabiliza-las?
JG:Essa questão do Merchandising é algo que está muito ligado a forma de visão de negócio que eu e o Marcelo temos e trabalhamos muito nisso juntos. Ele é um grande artista gráfico, que já trabalhou com Slayer, Kreator, Dark Funeral, Machine Head, Soulfly, entre outros. E ele tem uma visão muito bacana da questão estética da banda. E eu também trabalho muito com a parte gráfica, então trabalhando juntos nós temos essa exigência dessa excelência nos nossos produtos.
O café foi até uma brincadeira porque eu estava vendo muita banda lançando cerveja, aí o Sepultura lançou cachaça, e eu pensei : “cara, a gente não bebe”. No The Troops of Doom hoje nós só temos dois integrantes que só tomam vinho e de uma forma muito tranquila. Ninguém curte muito álcool assim. Então pensamos em lançar um café, que é uma coisa que a gente adora ( eu sou viciado inclusive).
Então tivemos essa oportunidade de lançarmos o café da banda através de uma fazenda de café no norte do Rio e sul de Minas ali na região de Varre-Sai, que é uma colheita familiar, manual , uma coisa super bacana mesmo. Foi uma aposta que fizemos e foi um sucesso! Vendemos tudo, e agora pretendemos criar uma versão em capsulas do nosso café futuramente.
Fora o café nós temos outros produtos também. E a banda não só investiu no início, como agora se tornou uma exigência de contrato, essa questão dos produtos físicos do The Troops of Doom, como o K7, o vinil e o CD. Nós sabemos que os fãs de Heavy Metal gostam disso, como nós gostamos também, então fazemos questão que isso seja lançado e não vivemos apenas a função da nossa distribuição digital.
Assim, a ideia é sempre trabalharmos no merchandising trazendo várias estampas de camisetas diferentes, por exemplo, modelos de camisas diferentes também. Em breve vamos abranger o vestuário para o modelo feminino também. E vale ressaltar que todo esse investimento foi feito com as vendas do nosso primeiro EP, então uma coisa acabou gerando outra. Nós temos uma conta da banda onde só é colocado dinheiro referente à merchandising e aí pegamos os valores de acertos de licenças que nós fizemos pro mundo todo dos nossos dois primeiros EPs que são independentes, e acabamos investindo nos itens.
Com os shows, você acaba vendendo melhor e aí com o que entra você acaba reinvestindo em itens ainda melhores.
RB: Ainda falando desses itens de merchandising. O The Troops of Doom possui várias ramificações físicas dos eps e agora do álbum, com direito a fita K7 e lps como você mencionou acima.
Como é para você apostar nestes formatos, e como é a receptividade desse tipo de material partindo do público brasileiro, tendo em vista o desinteresse cultural por esses materiais tão incríveis?
JG: Essa questão do desinteresse, é claro uma coisa voltada para o mercado. Mas assim, para o nosso nicho do Metal eu não sinto esse desinteresse. Muito pelo contrário.
A gente vende muito bem. Por exemplo, os nossos dois primeiros EPs, que são independentes, e que licenciamos pra algumas gravadoras para produzirem, não só no Brasil mas em países como México, Estados Unidos, na Europa, já estão na terceira prensagem. Inclusive já tiveram edições extras que mudaram a cor do vinil.
As fitas K7 que chegamos a produzir em menor número (produzimos cerca de 500 unidades) também foram totalmente vendidas. O LP até demora para vender mais, por se tratar de um produto caro e de difícil fabricação, o que demanda muito tempo e muito dinheiro investido. Mas nós fazemos questão de produzir todos esses formatos por uma razão simples, que é a paixão dos fãs por esse tipo de produto e o anseio de poder ter esses itens, de manusear o disco ou a fita, mesmo que não os escute.
Acreditamos que aos poucos o consumo da mídia física é um ciclo, que aos poucos, está voltando, ganhando respeito e força também.
RB: As participações em Antichrist Reborn são um chamariz a mais para o trabalho, e que ao mesmo tempo, dão um toque de uma celebração ao Metal nacional. Inclusive vale a pena ressaltar a participação do Jeff Becerra do Possesed no ep anterior.
Como foram pensadas essas participações, e qual o maior desafio na hora de compor essas faixas pensando nas possíveis pessoas envolvidas nelas?
JG: As participações são muito naturais. Nós não colocamos no papel nomes de pessoas que poderiam trazer algo para vender mais se as inseríssemos em alguma faixa.
Citando a participação do Jeff Becerra na participação na faixa The Monarch no The Absense of Light. Aquele trecho que ele participa é a cara dele, mas quando a estava escrevendo e mostrando para a banda, foi o Alex que disse que a música remetia ao Jeff, podendo inclusive fazer o uso dos icônicos berros característicos dele. Então ao final, a relação entre os vocais ficou muito boa, e nós de prontidão definimos que teria de ser ele a participar.
Até então eu nunca havia sido apresentado ao Jeff, mesmo ele dizendo ser fã do The Troops of Doom. Quem fez essa ponte e proporcionou o nosso encontro, foi um amigo que temos em comum, que apresentou a demo dessa faixa que produzíamos pensando nos vocais dele. Quando perguntei a ele se gostaria de participar de The Monarch, de prontidão aceitou, porém, tivemos de esperar, pois na época ele se recuperava de uma delicada cirurgia que acabara de fazer. Voltando pra casa em menos de 15 dias depois, ele gravou os vocais ainda deitado na cama e mandou pra gente. E mesmo debilitado ele ainda fora super solicito e educado, nos perguntando se queríamos que alguma mudança fosse feita. Mas foi a primeira versão enviada que tomamos como a definitiva.
Já no caso do Alex Camargo do Krisiun, se deve ao contato que eu tenho com a banda há anos. Em 2005, quando gravei com o Sepultura o DVD ao vivo em São Paulo, o Alex também estava presente e ele, assim como o Moisés e o Max, são muito fãs da primeira fase do Sepultura. Todas as vezes em que conversamos, eles sempre ressaltam isso, dizendo que foi através do Bestial Devastation e o Morbid Visions que o Krisiun nasceu. Então era mais do que obvio que no nosso primeiro disco, chamaríamos a banda toda para regravar a Necromancer.
Já o João Gordo , a música foi escrita pra ele. Nós queríamos fazer uma faixa sobre a crença cega, os pastores que aproveitam dos fiéis (de qualquer seguimento do cristianismo). E eu queria que essa música fosse uma mensagem que pudesse ser divulgada e espalhada, principalmente, no Brasil. Então escolhemos deixar a letra em português, que foi feita em parceria com o Alex também.
E o João adorou a letra também e se prontificou a cantar. Nós já tínhamos em mente a presença dele no disco, por isso fizemos a musica em uma pegada bem rápida e agressiva, meio um pouco de Crossover, Hardcore com Death Metal, e o resultado ficou bem bacana.
RB: Agora com uma alta carga de repertório o The Troops of Doom tem material de sobra para as apresentações ao vivo. Quais os planos da banda agora que o filho caçula já esta no mundo?
JG: Com o álbum já rodando, e os lançamentos dos clipes de Altar of Desolution, Dethroned Messias e o Lyric vídeo de A Queda, a banda está focada nos shows que vamos fazer no Brasil, mais para o segundo semestre, a partir do início de agosto.
Nós já temos algumas data fechadas que estão bem bacana,s e também estamos focados em uma turnê na América Latina em breve, que esperamos que aconteça, estamos trabalhando para isso, e uma turnê na Europa também.
RB: A capa do disco foi concebida pelo grande Sérgio “Aljarrinha” Oliveira, quem também foi o emblemático artista pelas icônicas artes do Bestial Devastation. Como surgiu a ideia para a arte de capa do Antichrist Reborn, foi uma colaboração entre a banda e o artista? Você poderia contar mais sobre os detalhes desse processo criativo?
JG: Cara, a capa foi uma ideia que eu pensei há muito tempo atrás. Eu pedi autorização para minha banda, e eles toparam me pedindo para guiar o artista que eu quisesse para trabalhar conosco.
O próprio Marcelo que deu a ideia de trazer o Aljarrinha para trabalhar na arte da capa, com a mesma paleta de cores do Bestial Devastation, que ele usou há 35 anos atrás. A ideia inicial era fazer uma horda de demônios invadindo uma igreja e a destruindo. O conceito partiu da música Antichrist, que regravamos no The Absence of Light, trazendo como o próprio título menciona, o renascimento do anticristo.
Mas apesar disso, o disco em si aborda demais temas e metáforas, do que apenas essa camada do Death Metal mais satanista, vamos assim dizer. O Resultado ficou maravilhoso, eu sou fã dessa capa!
RB: Assim como o Sepultura se tornou o grande nome brasileiro do thrash mundo afora (até além do Thrash), o Krisiun seguiu esse caminho, porém no Death Metal mais extremo. É claro que o Sepultura também foi um embrião do Death no Brasil, principalmente na fase em que você fez parte.
Agora no Troops of Doom, com toda qualidade e profissionalismo que vocês tem empenhado, aliado a essa bagagem e história que você ajudou a criar, o quão longe você acredita que a banda pode chegar?
JG: Em relação a ser um icône ou ser uma banda que vai levar o nome do Brasil mais uma vez para fora, a coisa não funciona mais da mesma forma. Não vou dizer que foi simples para o Sepultura nem para o Krisiun. De forma alguma.
Foi muita luta, muitos shows, muitas furadas, muita bateção de cabeça, muitos tombos, para que eles chegassem onde chegaram. Eu fiz parte de parte da história de uma delas, mas sei que ambas enfrentaram muita coisa pra estarem onde estão. E nós ainda passamos por coisas desse tipo, sejam bandas iniciantes ou bandas grandes.
Então assim, como já disse antes, o mercado está muito saturado, então já não é mais simples que o nosso som seja levado para fora com a mesma surpresa, com a mesma novidade. Então o que nós queremos fazer, é espalhar o nosso som, espalhar essa palavra do Death Metal dos anos oitenta, que é o que eu estava fazendo com o Sepultura na época que eu estava na banda.
Eu espero que a gente consiga trabalhar da melhor forma com a banda, que a banda se sustente, que a banda nos dê alguma sustentação também financeira. Que nós consigamos tocar em festivais, tocar em lugares que eu nunca fui até então, que as pessoas peçam pela nossa presença, que os fãs peçam aos produtores que levem o The Troops of Doom.
Quanto mais isso acontecer, melhor pra gente, mais o público ganha, mais as bandas ganham, mais o mercado ganha e a gente tá tentando não deixar essa peteca cair. Mas eu acredito que no futuro, a gente vai estar fazendo um bom trabalho também.
RB: Jairo, agora falando como músico também. Na mesma semana que vocês lançaram o Antichrist Reborn, um dia antes a minha banda a Sacramentia lançava o nosso segundo trabalho de estúdio, o IX.
Você acompanha o trabalho de bandas mais novas, de molecada mesmo, sem membros das cenas mais antigas? Se sim, poderia citar alguns nomes e também dar uma palavra de apoio a àqueles que, assim como você, estão na luta pelo metal brasileiro?
JG: Vou citar algumas bandas que acho que estão a luta e merecem atenção do público, não apenas pelo esforço, mas pela qualidade e pela proposta:
– Hellway Train (Heavy Metal de BH)
– Overdose Nuclear (SP)
– GURO (Grind/acho que são do Rio)
– Gramahero (indie rock)
Tem várias boas bandas na luta hoje. Eu não conseguiria citar todas mas acredito que teremos grandes nomes vindo por aí!
RB: Agradeço muito a você pelo tempo de batermos esse papo, mesmo que à distância, e agradeço também ao Caio pela oportunidade de representar a Extreme Sound Records. Espero um dia poder dividir o line up de um festival junto com o The Troops. Um forte abraço e tudo de melhor sempre!