DESTAQUES, ENTREVISTAS

Entrevista com a fotógrafa e jornalista Jéssica Mar

Uma das grandes parceiras desde os primórdios da Extreme Sound Records, a paulista Jessica Mar é uma das maiores forças femininas independentes do nosso cenário brasileiro. Seja tirando fotos com os grandes medalhões do Rock e Metal, como Steve Harris, Corey Taylor, Nergal, entre outros, ou cobrindo grandes festivais na Europa, os feitos dessa jovem jornalista são grandiosos, dignos de deixar qualquer tiozão das antigas fazendo biquinho e batendo o pé de inveja.

E hoje você amigo leitor vai saber um pouco mais sobre a caminhada de Jéssica dentro do ramo jornalístico pelo Rock e Metal em uma entrevista exclusiva que ela cedeu ao nosso colaborador Renan Bezan, onde além do jornalismo, o colecionismo foi um dos temas abordados.

Renan Bezan: Jéssica, sei que além de colegas de profissão, nutrimos essa paixão em comum pela música. No meu caso o Jornalismo cultural foi o que me proporcionou a vontade de seguir carreira como jornalista, uma vez que, ao invés de política, economia e outros assuntos importantes, porém chatos, poderia finalmente abordar os temas que tanto gosto. Gostaria de saber  se no seu caso houve também uma “virada de chave” que te fez enxerga na música uma forma de exercer o jornalismo.

Jéssica Mar: Olá Renan! 

Então, eu sempre andei por vários universos profissionais. Eu sou formada em Gastronomia pela Anhembi Morumbi e trabalhei na área por 10 anos, mas a música sempre esteve presente desde a infância, graças ao meu pai que colecionava discos e CDs e me apresentou muitos nomes da música. 

Há sete anos eu percebi que queria estar com artistas, comecei indo encontrá-los em hotel, eventos… e percebi que precisava de algo a mais, então surgiu no meu feed do Twitter o Elio, do site Os Garotos de Liverpool, precisando de redatores. Como sempre foi uma área que me dei bem, desde a escola, decidi arriscar e graças a chance do Elio, conquistei muitas coisas na área, passando por lugares como Metal Hammer  Espanha, Metal Hammer Portugal, Headbangers News, Wikimetal… 

Com a sede de conquistar mais, fundei a Reverbera Music Média, e represento bandas como Torture Squad, Claustrofobia, The Damnnation, APNEA, Trend Kill Ghosts e muitas outras. Mas continuo escrevendo em sites de música, além de também ser fotógrafa. 

Resumindo foi isso. Também virei a chave mas de um extremo ao outro, e sigo no jornalismo musical. 

RB: Como foram os seus primeiros contatos com a música e quem foram os seus maiores influenciadores? 

JM: Desde que nasci tive contato com a música. Meu pai colecionava Discos, CDs, revistas, e sempre me manteve nesse meio da música. desde criança ele comprava CDs pra mim, lembro que ganhei meu primeiro disco, da Xuxa 10 anos, aos seis . Cresci ouvindo hits dos anos 80, e me apaixonei, tendo até hoje meus artistas preferidos que me influenciam: Madonna e Michael Jackson. 

Conforme eu crescia e conhecia colegas na escola e na vida, fui conhecendo o rock mais pesado – meu pai só ouvia baladas de bandas como Beatles, Queen, Black Sabbath e alguns Hard Rock. Tive um amigo punk que me deu alguns CDs gravados, me apresentando o post punk – alguns nomes eu já conhecia através do meu pai -, mas também conheci as várias vertentes do metal, e nisso me encantei com o Slipknot, banda que mais gosto.

Sempre andei com pessoas de todos os estilos, do Rap ao Black Metal. E todas me apresentaram ao estilo. Hoje coleciono música, apesar de trabalhar no Rock e Metal, ouço muita coisa fora desse segmento.

RB: Como foi a sua primeira experiência cobrindo o show de uma banda e qual foi? 

JM: Confesso que não lembro bem qual foi o primeiro. Comecei fazendo resenhas e entrevistas. Eu ia em muitos shows, não lembro qual foi o primeiro para cobrir. Mas como fotógrafa, o primeiro foi o The Sisters of Mercy – um desafio, já que é um show sem nenhuma luz (risos). 

RB: Em suas redes sociais é possível encontrar você com diversos medalhões do Rock e do Metal. Pra vc como é  lidar com uma situação dessas e não extrapolar o lado fã nesses momentos, tendo em vista que até com Roger Waters, um dos caras mais ranzinzas do Rock, você já fotografou? 

JM: Nesses casos, eu vou como fã mesmo. Como falei, é um hobby que comecei devido minha vontade de estar nesse meio e perto dos artistas. Então eu vou como fã pra pegar autógrafos e fotos mesmo, como se fosse um grande álbum de figurinhas que preciso completar.

Quando vou em coletivas, shows e entrevistas, não “tieto” ou tiro fotos com o artista, apenas fotos deles mesmo (risos). E o Roger não é ranzinza, pelo menos não foi nas três vezes que encontrei. Existem artistas bem mais chatos que ele. 

RB: Desses inúmeros artistas, quais você ainda não teve oportunidade de encontrar para uma foto? 

JM: Ah, tem muitos! Dos que estão vivos, meu sonho é Madonna, Elton John e vários nomes dos anos 80. Mas também queria encontrar alguns pra completar o álbum – muito já encontrei mas não quiseram papo, como Marilyn Manson, Linkin Park, Chris Cornell, James Hetfild, Roberto Carlos

Dos que já morreram, eu queria muito ter conhecido o Paul Gray, Michael Jackson, Amy Winehouse, Tim Maia… 

RB: Neste meio jornalístico, qual foi a sua experiência com bandas mais agradável e a menos agradável (vale para bandas tanto gringas quanto nacionais)? 

JM: Mais agradável tem várias bandas legais de trabalhar, que conversam com a gente e nos tratam bem. Posso citar Dead Fish, Sabaton, todas as meninas que passaram pela Nervosa, Judas Priest… e as bandas da Reverbera, com quem trabalho diretamente.

Desagradável tem algumas, que não vale citar, mas são algumas pessoas que tratam mal quem trabalha com elas, tem banda por aí que prega uma coisa nas redes mas trata mal a galera que trabalha com elas.

Eu sempre posto sobre, então vamos apoiar as que eu sempre elogio, pois são pessoas que valem a pena ter por perto além da música! 

RB: Recentemente, você retornou da Europa onde trabalhou com coberturas de diversos festivais importantes, como o Rock In Rio Lisboa, por exemplo. Quais os maiores desafios enfrentados nestes eventos e quais as lições que você aprendeu que servem para o resto da vida? 

JM: Boa! Eu nunca tinha ido em festivais como jornalista. O Rock in Rio foi o mais tranquilo, pois é perto de onde moro em Lisboa e é bem menor que o do Rio de Janeiro, embora haja o desafio de poder fotografar as bandas maiores – eles dão prioridade apenas para sites portugueses. 

No Hellfest, o melhor é o lineup mas a estrutura, as pessoas e o sol de 40 graus são horríveis. O Wacken foi o que mais gostei, todos tratam estrangeiros e imprensa bem, o clima é muito amigável, e os shows/estrutura são ótimos! 

O maior desafio é dar o primeiro passo é ir. A primeira vez sempre é desafiadora. Você não conhece nada, não fala a língua nativa, em o calor, chuva, barraca… tudo parece horrível. Depois da primeira vez, que você conhece o ambiente, as próximas são mais legais e calmas.

Lições para a vida toda: use protetor solar e beba muita água! (risos).

Mas a experiência de viajar, conhecer pessoas e culturas novas é uma experiência pra vida toda. Esse ano quero conhecer outros festivais em outros países, como o Inferno Festival na Noruega, Download Festival na Inglaterra e Ressurection na Espanha. O básico eu já sei como é (risos). 

RB: Qual o maior desafio em ser uma mulher independente trabalhando em um universo predominantemente masculino? 

JM: O maior desafio é ter paciência e saco pra aguentar o povo chato. Nos mulheres sempre temos que provar algo e trabalhar o dobro, provar que que conhecemos tal banda, ou que sabemos tocar, e quando tudo da errado sempre culpam por ser mulher – veja o exemplo da Nervosa que todos julgam a formação mas há várias bandas só de homem que vivem mudando formação mas ninguém crítica. 

Confesso que acho estranho estar em um pit fotografando e na maioria das vezes ser a única mulher, ou reparar que só tem no máximo três garotas ali. Olhar meu Instagram e ver que 70% do público é masculino ou que o meio de colecionismo é masculino. Mas fico feliz em ver cada vez mais garotas aparecendo, e muitas que eu colaborei para o crescimento! 

No começo sempre e difícil mas depois você entende que não precisa provar nada, apenas ser você e fazer o que quiser. Use o tempo perdido se preocupando com os comentários machistas para dar ideias e ajudar outra garota que está começando. Seja uma garota que levanta outra garota. 

RB: Agora sobre colecionismo. Sei que você também é uma colecionadora nata. Como surgiu esse fascínio por ter em mãos as obras dos seus artistas e bandas prediletos? 

JM: Graças ao meu pai que já fazia isso. Eu cresci em meio aos CDs e discos e achava demais ouvir a música e ir folheando encartes, lendo as músicas… e naquela época a única maneira de ouvir música era com mídia física, e meu pai sempre advertiu sobre ter material falso, como um CD pirata. Então ele comprava os CDs que eu queria, e cresci assim. Comecei a me encantar pelos discos, por ter fotos maiores, uma arte mais legal… e assim foi. Desde meus 13 anos, quando comprei meu primeiro disco com meu dinheiro, que foi o Thrillher do Michael Jackson.

RB: Quais itens da sua coleção você considera mais valioso no quesito sentimental e quais as raridades ou itens especiais que vocês acha que vale a pena compartilhar conosco? 

JM: Sentimental, acho que minha coleção do Tim Maia e Michael Jackson. Além de alguns títulos dos anos 80, e CDs que eram do meu pai, porque me lembram dele. 

Humm, vou citar alguns: Pink Floyd – Wish you were Here (assinado pelo Gilmour, Water e Nick Mason), minha coleção do SlipKnot, também assinada por todos que passaram pela banda. Para essa questão seria legal um vídeo mostrando algumas coisas, vamos deixar anotado pra outra ocasião (risos).

RB: Quais conselhos você daria para quem está no início do colecionismo? 

JM: Vai chegar um momento que você vai usar meias e calcinhas rasgadas e roupas velhas, mas vai estar feliz porque a coleção tá impecável (risos).

Brincadeiras a parte, sempre incentivei quem vem me pedir opinião ou ajuda, porque é algo muito legal! Mas sempre advirto que é um hobby caro – e ultimamente todos sabem que ficou mais caro ainda. Mas sempre há lugares para encontrar itens mais em conta. Acho que o que mais pega nessa hora é o preço, é ter a grana para comprar. 

RB: Você e a Extreme Sound Records são parceiros de longa data. Como se deu o início dessa parceria? 

JM: Ah, o Caio foi um dos primeiros que confiaram no meu trabalho e no meu alcance, dando a oportunidade de criar uma parceria bem legal para divulgação do selo! Lá no começo quando comecei a divulgar bandas nas redes sociais ele entrou em contato para mostrar o selo e enviar material. 

Além de sorteios, ele também contribui para minha coleção com itens exclusivos e peculiares que a Extreme Sound Records lança! 

RB: Até hoje, quais os materiais lançados pela Extreme mais lhe chamaram atenção e por que? 

JM: Sem puxar saco, mas que eu me lembre ele foi pioneiro em lançar edições com pôster e porta copos com a capa do álbum, e eu acho isso incrível! 

As edições que eu gosto são os do Beyond Creation, Firespaw, Bloodbath (adoro), Krisiun e Sacramentia.  

RB: Jéssica, muito obrigado pelo papo, sei como essa vida de jornalista é corrida. Esperamos que possamos colaborar mais vezes em prol do nosso cenário! 

JM: Agradeço ao Renan e ao Caio pela parceria e pelo espaço!

Adorei falar um pouco sobre meu trabalho e espero que todos tenham gostado e se identificado! Caso queiram saber mais ou falar sobre música, fiquem a vontade para mandar uma mensagem no Instagram

@euaouajessicamar ou na página “A Menina que colecionava Discos”

Beijos!

Você pode adquirir grande parte dos discos citados nessa entrevista e muito mais, clicando aqui! 

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