Resenha: Touching The Terror – N.W.77 (2025)

A vastidão do cenário brasileiro é tamanha que chega a impressionar a quantidade de bandas incríveis que nos são apresentadas diariamente — e que, na maioria das vezes, já estão na caminhada há bastante tempo. No caso da banda que apresento hoje, estamos falando de uma década e meia de estrada.

Fundada por Marcel Ianuck (baixo e vocal; ex-Deceivers, Sapatos Bicolores e Macakongs 2099) em 2010, a N.W.77 nasceu como um projeto solo voltado à gravação de músicas autorais. Com o lançamento de dois EPs iniciais, o projeto evoluiu para uma banda completa, com a entrada dos guitarristas PC Montalvão (Sapatos Bicolores) e Márcio Montalvão (ex-Deceivers), além do baterista Rodrigo Pinto (ex-Peter Perfeito e Capotones). Em 2015, o grupo lançou seu primeiro álbum completo, Nuclear Awake, distribuído pela Rotthenness Records e mixado por Daniel Iasbeck (Exxótica, Secos & Molhados, RF Force).

Com o crescimento da banda e a necessidade de aumentar a frequência de shows, o baterista Paulo Vinícius (ex-Macakongs 2099, Narcoze) foi adicionado à formação, permitindo uma agenda mais ativa de apresentações pelo Brasil, com passagens por cidades como Araraquara, Natal e Recife.

O som da N.W.77, marcado por influências de ícones do gênero como Suicidal Tendencies, S.O.D., Ratos de Porão, Lobotomia e Anthrax, mantém-se como uma homenagem aos clássicos dos anos 80 e 90, mas sempre com uma pegada contemporânea.

O primeiro lançamento oficial do grupo foi o EP Doomsday Countdown (2011), seguido por Youth Explosion (2013) — ambos independentes e responsáveis por introduzir a identidade sonora do grupo. Em 2015, o álbum Nuclear Awake marcou uma nova fase. Distribuído pela Rotthenness Records, o disco ampliou o alcance da banda, destacando-se como um trabalho maduro e bem-recebido pela crítica.

A projeção internacional veio em 2017, com a participação na coletânea digital The Harder The Better, Vol. 15, lançada pela Turkey Vulture Records (EUA). Esse lançamento colocou a N.W.77 no radar de fãs do gênero fora do Brasil, pavimentando o caminho para colaborações futuras.

Em 2018, o split Peste Nuclear, lançado em formato K7 em parceria com a banda A Peste, trouxe uma abordagem independente, enquanto o alcance global foi consolidado em 2021 com o split Play Fast, Ride Easy, uma produção conjunta das gravadoras Seven Oaks Records (Alemanha) e Audio Epidemic Records (Estados Unidos).

E assim chegamos a 2025 e ao EP alvo da resenha de hoje. Então sem mais delongas, vamos adentrar ao moshpit sonoro do N.W.77

Terror traz um riff pra lá de cativante — daqueles que fazem a cabeça balançar automaticamente. A letra é uma verdadeira ode do grupo à própria trajetória no underground e à vontade de, cada vez mais, agregar à cena brasileira, para que, unidos como nunca, continuem a “tocar o terror” por muitos anos a fio.

Mal conseguindo me recompor da primeira pedrada, em questão de milissegundos fui atingido por uma saraivada baterística que abre Dogday Everyday — um verdadeiro hino contra o conformismo e o compromisso com o cotidiano habitual do cidadão comum.

Ainda não tive a oportunidade de conhecer os trabalhos antecessores do N.W.77, mas creio que a terceira faixa, We Told You So, seja a que melhor sintetiza a identidade do grupo, uma vez que a música carrega pitadas de cada gênero que o quinteto busca apresentar. Nesse amálgama de sonoridades pesadas, o alvo da vez são os crimes cometidos pelo governo passado no Brasil.

Em uma quase dobradinha com We Told You So, Lake Paranoia traz todo o vórtice social ao qual somos assolados dia após dia — alienação, exploração e escravidão…

Assim, da mesma forma abrupta com que o trabalho se iniciou, encerro a audição mais rápida de um disco na minha breve carreira jornalística — com impressionantes 9 minutos e 10 segundos.

Lançado oficialmente em 24 de janeiro de 2025, Touching The Terror teve sua produção dividida entre estúdios: o instrumental foi gravado no Casa do Caralho Studios em 2019, enquanto os vocais foram registrados em outubro do ano passado nas dependências do There Goes Compensa Two Studios – Unidade 2.

A mixagem e masterização são assinadas por Zé Misanthrope, que também atua como vocalista e baixista em bandas como Godtoth, Nekkrofuneral e Omfalos. A arte de capa — que, sinceramente, me remeteu às charges do icônico Angeli — é de autoria de Túlio DFC.

A edição física ainda conta com duas faixas bônus: Dis Is Fear (com uma ótima referência “apenas para entendedores” entre parênteses) e uma versão de ensaio para Bacchanalia Open Air. Já a versão digital, que pode ser adquirida no Bandcamp, traz um remix para Dogday Everyday. Touching The Terror ainda ganhou versões limitadas em LP e K7.

O N.W.77 também lançou, em 29 de agosto, o split Carnivale Corpses, junto às bandas Low Life, Transtorno Nuclear, Morbid Devourment, Terror Revolucionário e Thrash Town Terror.

Em suma, Touching The Terror é uma excelente porta de entrada para quem, como este que vos escreve, ainda não conhecia toda a potência sonora do quinteto brasiliense. A curta duração do terceiro EP do grupo pega o ouvinte de surpresa, em um misto de “ué, já?” com “uou, o que foi isso que acabei de ouvir?”. E posso dizer, sem ironias, que ouvir o registro em plena segunda-feira de manhã, ao lado do cafezinho nosso de cada dia, foi o gás que eu precisava para encarar a primeira semana de novembro.

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Tracklist:
1 Touch The Terror
2 Dogday Everyday
3 We Told You So
4 Lake Paranoia

Bônus Tracks:
5 Dis Is Fear (2 Drums 1 Cup Sessions)
6 Bacchanalia Open Air (Ensaio).

 

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